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Unidade 1


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Introdução

Caro(a) aluno(a), você já deve ter ouvido que a literatura brasileira é muito diversificada. E é mesmo, assim como a composição de seu povo e de sua cultura. Apesar de ser recente, se for comparada com a literatura europeia, por exemplo, destaca-se principalmente pelas particularidades. O anseio por representar o que era unicamente de nossa terra, como no caso dos indígenas e de nossas reservas naturais, por exemplo, transformou-se em motivo literário desde os árcades até os nacionalistas e indianistas românticos.

Nesta unidade, você vai conhecer melhor alguns dos aspectos da História da Literatura no Brasil e sua evolução, da necessidade documental de se registrar e agrupar em torno de nomes, datas e características para a necessidade da reflexão sobre o que é a literatura brasileira e quando ela se inicia em nosso país. Apresentaremos alguns dos posicionamentos críticos acerca dessas questões apontadas e também passaremos, brevemente, pela polêmica que envolve a classificação em “Período”, “Época”, “Era”, “Fase” ou “movimento literário”.

Trabalharemos com o conceito de “movimento literário”, desenvolvendo a ideia de predominância de um ou outro aspecto, buscando desfazer a ideia de período literário estanque, com começo e fim, exatamente, nas datas indicadas.

Por fim, apresentaremos as principais produções realizadas no Período Colonial e destacaremos a função e as atitudes dos padres jesuítas em terras brasileiras.

Lembre-se: conhecer a literatura brasileira em seu período colonial é, antes de tudo, estar disposto a entender melhor nossa literatura posterior.

Aspectos da História da Literatura no Brasil

Ao se falar nas origens da Literatura no Brasil, lembramo-nos dos anos de escola básica, em que aprendemos que, por muitos séculos, a produção literária em nossas terras foi somente uma cópia do modelo europeu, em especial, de Portugal. E pensamos: Mas, então, houve literatura no Brasil nos primeiros séculos de Colônia?

Tal dúvida ganha forma quando lemos a opinião de importantes nomes nos estudos de nossa literatura e estes afirmam que a literatura “brasileira” teria surgido somente com o Romantismo, quando houve as primeiras produções voltadas para a realidade local. E Gregório de Matos? Produziu literatura “portuguesa” ao falar do governador Antônio de Sousa de Meneses, que perdeu um braço nas guerras pernambucanas e holandesas, em seu soneto satírico. E Cláudio Manuel da Costa? Também escreveu aos moldes lusitanos em seus dez cantos líricos sobre Vila Rica e Ouro Preto.

Outros críticos vão mais longe e afirmam que literatura brasileira mesmo foi produzida somente a partir do Modernismo, com a ruptura concreta e definitiva dos laços estéticos entre Brasil e Europa. Aí está uma polêmica que surgiu há alguns séculos, permanece viva e se estenderá pelas gerações de estudiosos da nossa literatura, já que refletir sobre algo desde seu princípio é sempre um exercício consequente de reflexão, sobre as produções literárias no momento presente, seja ele qual for.

Caro(a) aluno(a), como deve desconfiar, trataremos do conteúdo proposto nas unidades sempre resvalando por esses questionamentos em torno da origem da literatura no Brasil. Não colocaremos ponto final nessa discussão, porque os defensores da existência de uma literatura nacional anterior ao Romantismo têm suas justificativas muito bem fundamentadas em argumentos coerentes, assim como aqueles que defendem uma opinião totalmente contrária. São as regras da oratória, já dizia Aristóteles em Arte Retórica. Então, cabe a nós ler as produções de literatura feitas por escritores do Brasil Colônia, conhecer o contexto histórico, social e estético, juntamente com as opiniões críticas dos grandes nomes dos estudiosos de nossa literatura para que, assim também, tenhamos a nossa própria opinião com nossas próprias justificativas e argumentos.

Mas, então, o que define, delimita ou caracteriza a literatura de um país, qualquer que seja? A cultura resultante do processo de colonização, a independência política da Colônia, a abordagem de temas particulares e únicos, a escolha por formas literárias distintas de padrões clássicos... Enfim, uma produção literária que, ao ser lida, tanto pelo leitor nacional, quanto pelo estrangeiro, emita a seguinte impressão: essa é uma literatura “brasileira”, ou “portuguesa”, ou “italiana” porque tem a identidade dessa nação e dessa cultura.

Um fato histórico importante é que a independência política do Brasil aconteceu em 1822 e somente depois desse período é que os escritores nacionais tiveram maior liberdade para as próprias criações literárias, pois, durante a época colonial, os padres jesuítas traziam os modelos portugueses e direcionavam o que se produzia nas artes brasileiras. Sendo assim, optamos por trabalhar paralelamente o período colonial de nossa literatura com os acontecimentos históricos locais.

Conforme já afirmamos, estudar a Literatura Brasileira em suas origens passa pelo estudo da História do Brasil, já que até o século XVII nosso país foi colônia de Portugal. Todas as relações que se estabeleceram nos níveis econômico, cultural, social, religioso e artístico passavam, necessariamente, pelas intenções dos colonizadores.

Ao aproximar o estudo da História oficial com a reflexão sobre as origens da Literatura no Brasil, encontramos alguns posicionamentos críticos que se diferenciam e, às vezes, até se opõem quando a pergunta é: quando se iniciou a literatura no Brasil? Esses posicionamentos já se apresentaram desde os críticos brasileiros, a partir da segunda metade do século XIX e início do século XX, como Araripe Júnior, Sílvio Romero e José Veríssimo, para citar apenas alguns. Esses nomes exerceram papel fundamental na documentação e reflexão sobre a literatura brasileira, deixando ensaios críticos e estudos com muitos anos de pesquisa em torno do início de nossa literatura e também sobre os critérios utilizados, normalmente cronológicos, para a divisão em períodos das manifestações literárias.

Fato é que a discussão em torno dessas questões, lugar comum entre os críticos literários, desenvolveu-se bastante no século XX com nomes, como Afrânio Coutinho, Antonio Candido, José Aderaldo Castello e Alfredo Bosi, alguns dos nomes da geração contemporânea de críticos sobre a literatura no Brasil. E as discussões se seguem pelos nossos dias. Partindo das importantes contribuições deixadas pela geração anterior, acerca das considerações sobre a nossa literatura, esses críticos são contemporâneos de um tempo em que a literatura brasileira passou por profundas transformações, como a Semana de Arte Moderna, por exemplo. Assim, passaram a problematizar, de maneira mais aprofundada, nossa história da literatura e nossas poesias e obras, a fim de refletir e abrir a discussão ao longo das décadas sobre pontos importantes, como: O que é literatura brasileira? Quando surgiu nossa literatura? Qual a primeira manifestação que se pode considerar literatura brasileira?

Vejamos alguns exemplos:

Coutinho (1972) afirma que a reflexão sobre a literatura brasileira passa necessariamente pela sua conturbada formação, já que por muito tempo se baseou no modelo português. Para ele,

a evolução de nossa literatura foi uma luta entre uma tradição importada e a busca de uma nova tradição de cunho local ou nativo. Esse conflito das relações entre a Europa e a América, esse esforço de criação de uma tradição local em substituição à antiga tradição europeia, marcam a dinâmica da literatura desde os momentos ou expressões iniciais na Colônia (COUTINHO, 1972, p.35).

Já o crítico Candido (2006) realiza uma profunda reflexão sobre o que é literatura e o que a constitui para, depois, apresentar considerações sobre a literatura no Brasil. Para ele, é necessário pensar e conceber “literatura” somente a partir de “um sistema vivo de obras, agindo umas sobre as outras e sobre os leitores; e só vive na medida em que estes a vivem, decifrando-a, aceitando-a, deformando-a” (CANDIDO, 2006, p.83). Consequentemente, constitui-se literatura quando há vínculo e interação entre o escritor, a obra e o público, porque cada um desses “eixos” influenciar-se-ão em um determinado momento. Quando se volta especificamente para a ideia de como ocorreu essa relação entre escritor, público e obra no Brasil, o crítico afirma que a literatura “brasileira não nasce, é claro, mas se configura no decorrer do século XVIII, encorpando o processo formativo, que vinha de antes e continuou depois” (CANDIDO, 1975, p.16). Para ele, isso ocorreu por meio de dois processos:

Retórica e nativismo, fundidos no movimento romântico depois de um desenvolvimento anterior. A ação dos pregadores, dos conferencistas de academia, dos glosadores de mote, dos oradores nas comemorações, dos recitadores de toda hora correspondia a uma sociedade de iletrados, analfabetos ou pouco afeitos à leitura (CANDIDO, 2006, pp. 89-90, grifo nosso).

Com a ideia de literatura enquanto sistema literário integrado entre escritor, obra e público, Candido (1975) apresentou e representou uma inovação no campo dos estudos literários no Brasil, desde o momento da publicação de suas obras, em especial, de Formação da Literatura Brasileira I e II e Literatura e Sociedade. Essas obras apresentaram um método de estudo “que seja histórico e estético ao mesmo tempo” (CANDIDO, 1975, p.16). Assim, se estenderam e servem de base teórica até os dias de hoje.

Partindo da original conceituação de sistema literário, o crítico se volta para as produções literárias em solo brasileiro e afirma, conforme pudemos perceber na citação anterior, que, interação entre os três eixos do sistema literário ocorreu no Romantismo, ligado diretamente a “um desenvolvimento anterior”. Sua justificativa para a não integração entre escritor, obra e público nos primeiros anos do Brasil Colônia e no Barroco passa pela forma como era produzida, transmitida e recebida a literatura em nossas terras, ou seja, era produzida principalmente por padres, por colonizadores, com intuito central de catequizar e implantar a cultura branca aos indígenas e era ouvida, declamada para um público cuja maioria era analfabeta.

Após a reação de várias pessoas que parecem terem lido somente a “Introdução” da obra, o crítico destacou que nunca afirmou a não existência de literatura antes do Arcadismo no Brasil e enfatizou:

No sentido amplo, houve literatura entre nós desde o século XVI; ralas e esparsas manifestações sem ressonância, mas que estabelecem um começo e marcam posições para o futuro. Ela aumenta no século XVII, quando surgem na Bahia escritores de porte; e na primeira metade do século XVIII as Academias dão à vida literária uma primeira densidade apreciável (CANDIDO, 1975, pp.15-16).

Épocas e Períodos (ou Movimentos) Literários

Antes de iniciarmos nossas colocações sobre períodos ou movimentos literários, é necessário lembrar que essa questão, juntamente com a polêmica de quando se iniciou a literatura no Brasil, marcam a História de nossa literatura por meio de posicionamentos opostos entre os críticos. De maneira geral, a geração de críticos de Afrânio Coutinho, Antonio Candido e Alfredo Bosi se opôs à periodização da história literária que era feita até então, baseada, principalmente, em critérios cronológicos, políticos e históricos.

Para Coutinho, por exemplo, tal processo seria uma “tirania” porque subordinaria o elemento artístico a datas, fatos históricos e sociais. Dessa forma, aponta como solução “a descrição do processo evolutivo como integração dos estilos artísticos” (COUTINHO, 1972, p.33), ou seja, se propõe a estudar as manifestações literárias no Brasil priorizando justamente “o que” e “como” se produziu.

Candido (1975) trabalha de maneira interativa com os períodos de nossa literatura, utilizando-se, principalmente, de seu conceito de literatura enquanto sistema inter-relacionado entre autor, obra e leitor, ou seja, distanciando-se de um tratamento que priorizasse somente um desses aspectos, ou então, somente o contexto histórico de produção.

Os períodos ou movimentos literários caracterizam-se por apresentarem marcas e elementos particulares, subjetivos e, ao mesmo tempo, em comum com várias produções de escritores, ou seja, compõe-se por um “sistema de normas, convenções e padrões literários, cuja introdução, difusão, diversificação, integração e desaparecimento podem ser seguidos por nós” (WELLEK apud AGUIAR e SILVA, 1984, p. 414) e não por aspectos ou características isoladas. Esses movimentos se formam em determinado contexto histórico e cultural e resultam em estilos de época para as produções artísticas, por exemplo: a Revolução Francesa, o surgimento da burguesia como sendo uma nova classe social em ascensão na Europa e o Romantismo. Sendo assim, apesar de cada obra ser única e de cada autor deixar uma marca pessoal, ou seja, de ser também composta por um estilo individual, há os aspectos gerais do período literário em comum.

Um exemplo dessa ocorrência na literatura brasileira foi a menção ao índio como sendo tema de produções de vários escritores e resultado do contexto histórico cultural do movimento romântico brasileiro, ou seja, foi um tema genérico desse movimento. Porém, Gonçalves Dias trata do mesmo tema por meio de uma abordagem diferenciada, que amplia a interpretação desse tema para um trabalho com a própria linguagem, ou seja, no caso desse poeta, estamos falando de um “estilo individual”.

Outra característica do “movimento” ou “período literário” é, em alguns contextos, reunir concretamente grupos de escritores para discutirem e trocarem informações ou ideias com um mesmo propósito. Por exemplo, o grupo da Geração de 70 em Portugal, formado após a Questão Coimbrã, que reuniu alguns escritores portugueses da época. Eles defendiam os propósitos de uma literatura com características semelhantes, que resultou no Realismo português. Outro exemplo notável é o movimento modernista, em que os escritores se reuniam nos cafés para discutirem ideias em torno de uma nova forma de se fazer literatura. No caso de Portugal, houve a reunião e a publicação das produções desses escritores em revistas, respectivamente a Orpheu e a Presença. No Brasil, houve o grupo de artistas que se reuniu por várias vezes e promoveu a Semana de Arte Moderna. Porém, é preciso lembrar o aspecto dinâmico dos movimentos literários, conforme destacou Aguiar e Silva (1984, p. 419 - 420), a partir de reflexões de Wellek:

[...] os períodos literários não se sucedem de modo rígido e abrupto, como se fossem entidades discretas, blocos monolíticos linearmente justapostos, mas sucedem-se através de zonas difusas de imbricação e de interpenetração. Como fenômenos históricos, os períodos literários transformam-se continuamente – a produção e a recepção de textos alteram constantemente o equilíbrio do sistema literário –, podendo afirmar-se, com alguma razão, que é incorreta a designação de “períodos de transição”, uma vez que todos os períodos são de transição. [...] Ora um código literário não se extingue abruptamente, num determinado ano ou num determinado mês, como também não se constitui de um jacto, subitamente.

É comum a realização de uma periodização das literaturas para facilitar o entendimento do aluno. Ou seja, a apresentação de elementos fundamentais de cada movimento ou período literário dispostos em um quadro comparativo. Essa opção prioriza o aspecto didático do conteúdo. No entanto, é preciso sempre lembrar que o quadro comparativo dos períodos literários de qualquer literatura, isto é, a sua “periodização”, nunca deve ser entendida como sendo algo estanque. Nenhum período literário até hoje começou rigorosamente em tal data e terminou em outra para que o próximo movimento literário se iniciasse “sozinho” também em uma data específica. As ideias de um determinado período se iniciam bem antes do marco oficial “registrado na periodização”. Essas ideias e características vão se espalhando até que, em um determinado período, vários outros autores também compartilham dos mesmos princípios. Então, convenciona-se a indicação de uma produção literária específica para marcar o início desse movimento literário. Da mesma forma, com o passar das décadas, o contexto cultural, histórico e social vai mudando e os anseios estéticos também. Então, passa-se a defender outros ideais diferentes dos de um determinado momento até chegar outro momento em que se compõe um novo movimento literário, de forma parecida com que surgiu o anterior. No entanto, este primeiro não desaparece, nem evapora no tempo e no espaço simplesmente, podendo permanecer por alguns anos depois de começado o novo movimento.

Por isso, é preciso entender a periodização da literatura apenas como uma apresentação didática desse conhecimento, ou seja, a disposição em quadro comparativo como um facilitador da assimilação de elementos e aspectos principais. É preciso acabar de vez com a ideia de que os movimentos literários foram estanques, com datas e horas fixas de início e fim, porque, na verdade, o que existe é uma flexibilidade entre esses movimentos e uma relação de predominância de uma ou outra característica que acaba por aproximar um conjunto de obras literárias. Se pensarmos a periodização da literatura a partir de relações de flexibilidade e predominância, conseguiremos compreender os fenômenos estéticos em suas completudes e coerências internas, por mais incoerentes que possam parecer.

Depois de colocadas essas questões, apresentaremos o nosso quadro comparativo com a periodização da literatura brasileira. No entanto, não se esqueça da ideia de “flexibilidade” e de “predominância” entre esses movimentos, conforme comentamos anteriormente.

  • ÉPOCA COLONIAL
MOVIMENTOS LITERÁRIOS Quinhentismo Seiscentismo ou Barroco Setecentismo ou Arcadismo Período de transição
OBRAS/ MARCOS INICIAIS Carta de Pero Vaz de Caminha. Prosopopeia (1601), de Bento Teixeira.    
ASPECTOS HISTÓRICOS OU SOCIAIS Descobrimento do Brasil; Companhia de Jesus. Invasões holandesas. Ciclo da mineração; Inconfidência Mineira. Corte portuguesa no Rio de Janeiro; Independência do Brasil/ Regências.
  1500 – 1601 Até 1768 Até 1808 1808 - 1836

Quadro 1.1 - Características da Época Colonial
Fonte: Adaptado de Nicola, Floriana e Ernani (2002).

Não elencamos os “estilos” ou características de cada movimento literário para que você vá conhecendo ou relembrando-os na medida em que avance nos estudos das unidades.

  • ÉPOCA NACIONAL
MOVIMENTOS LITERÁRIOS Romantismo Realismo/ Naturalismo Simbolismo Modernismo Contemporaneidade
OBRAS/ MARCOS INICIAIS Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães; A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo. Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis; O mulato, de Aluísio de Azevedo. Missal e Broqueis, de Cruz e Sousa. Semana de Arte Moderna. Poesia concretista.   Várias tendências da literatura contemporânea.
ASPECTOS HISTÓRICOS E SOCIAIS II Império; Lutas abolicionistas. Libertação dos escravos; República. Revolta da Armada; Revolta de Canudos. Ditadura de Getúlio Vargas.   Ditadura militar; Eleições diretas.
  1836 - 1881 Até 1893 Até o início do século XX 1922 Após 1945
 

Quadro 1.2 - Características de Época Nacional
Fonte: Adaptado de Nicola, Floriana e Ernani (2002).

A seguir, veremos o Quinhentismo, seus componentes históricos, literários, sociais e suas especificidades. Vamos lá?

Quinhentismo: Componentes Históricos e Literários

Normalmente, são denominadas de Quinhentismo todas as manifestações literárias que aconteceram no Brasil durante o século XVI, logo após o Descobrimento do Brasil. O início da colonização coincidiu com o momento áureo da literatura quinhentista portuguesa, tendo como seu principal representante, o mestre Camões. A preocupação com a espiritualidade dos povos nativos e dos portugueses que estavam no Brasil conduziu à chegada de expedições com padres jesuítas em 1549, meio século após o descobrimento. Eles foram responsáveis pela catequese dos índios, além dos ensinamentos da língua portuguesa e da doutrina cristã nos colégios que fundaram logo após a chegada desses padres. Na verdade, houve uma imposição cultural à qual os indígenas não tinham outra escolha a não ser se submeterem a tais ensinamentos. Isso resultou em um desrespeito com os princípios básicos da cultura indígena que tinha suas regras próprias. Os jesuítas simplesmente desconsideraram o rico conjunto de mitos e lendas dos nativos. Esse aspecto peculiar da cultura dos índios só passou a ser observado e valorizado em aspectos literários alguns séculos depois, com poesias e romances do indianismo romântico, por exemplo.

Já, no primeiro século iniciou-se o processo de miscigenação e consequente variação cultural e étnica em nossas terras, inicialmente entre portugueses e indígenas e, depois, também entre os negros trazidos da África. Também colaborou nesse processo a chegada de imigrantes de vários outros países europeus e dos portugueses nascidos nos arquipélagos dos Açores e da Madeira.

Você sabia que logo que o Brasil foi descoberto e que houve a divisão das capitanias hereditárias, Portugal enviou várias famílias que moravam nos arquipélagos dos Açores e da Madeira, também territórios portugueses, para habitar o Brasil e ocupar as capitanias?

Com relação ao processo imigratório para o Brasil, há fontes de diversas naturezas até 1872. Entre elas estão os registros paroquiais, os censos provincianos e as listas dos moradores das capitanias, por exemplo. A partir desse período já houve dados oficiais com recenseamentos ou censos demográficos que foram realizados por décadas, com exceção de 1910 e 1930. Essas fontes oficiais são documentos históricos de grande utilidade porque permitem o acompanhamento do crescimento ou evolução do processo de migração no país a curto e médio prazo.

Figura 1.1 - Mapa do Brasil Colonial – Divisão das Capitanias Hereditárias
Fonte: Luís Teixeira / Wikimedia Commons.

Os jesuítas se estabeleceram no litoral de São Paulo, em São Vicente, Olinda e também em Salvador. Posteriormente, iniciaram as construções das casas aos modos arquitetônicos portugueses.

A realização da primeira missa em solo brasileiro se tornou um marco histórico do nosso país. Esse fato também pode ser visto como uma manifestação interessante para a reflexão em torno da religiosidade brasileira e da imposição cultural.

Figura 1.2 - A Primeira Missa no Brasil, quadro de Victor Meirelles
Fonte: Yigruzeltil / Wikiart.

A missa foi realizada no dia 26 de abril, de 1500, na praia da Coroa Vermelha, Porto Seguro, litoral Sul do país. Foi narrada pelo escrivão Pero Vaz de Caminha em carta ao rei de Portugal, D. Manuel. Frei Henrique, e mais alguns clérigos, celebraram a missa que contou com a presença de cerca de mil homens entre marinheiros, oficiais e os índios que acompanhavam com surpresa o que acontecia. Eles imitavam os gestos ritualísticos da cerimônia e demonstraram respeito (o que não aconteceu por parte dos brancos). Isso fez com que Vaz de Caminha acreditasse na facilidade da “conversão” dos índios e a insistir pela rapidez em batizá-los. Logo após a cerimônia os sacerdotes narraram a chegada dos portugueses.

SAIBA MAIS

A Primeira Missa no Brasil

Para saber mais sobre a primeira missa realizada no Brasil, acesse o link disposto a seguir que detalha todo o ocorrido em 1500.

<http://www.arautos.org/secoes/artigos/arte-e-cultura/historia-da-igreja/a-primeira-missa-no-brasil-140649>.

Literatura Informativa e Literatura Jesuítica

Costuma-se conceituar literatura de informação as produções do Quinhentismo, desde o início do período de colonização. A “informação” era a função principal dos escritos de qualquer natureza dos portugueses que aqui chegaram, já que eles tinham a obrigação de comunicar, por meio de descrição minuciosa, tudo o que tinham encontrado em solo novo. Assim também ocorreu quando houve a descoberta de outras terras no período das navegações.

As produções escritas neste período eram os relatos de viagens, depoimentos e os documentos com registros descritivos das novas terras. Essa produção ocorria inicialmente pela obrigação, pela necessidade de transmitir informação para a Coroa portuguesa sobre as novidades e particularidades do país descoberto. Também muitos faziam esses registros por opção pessoal, devido a própria novidade e diversidade desse “novo mundo”. Tratou-se, então, de uma literatura realizada no Brasil, sobre a Colônia e escrita pelos portugueses, ou seja, apresenta a visão e as ambições do europeu em novas terras e diante de riquezas. Dessa forma, ainda não se tratava de uma literatura totalmente brasileira porque não era produzida com a visão do brasileiro.

As formas e gêneros textuais variavam entre a carta, os tratados, as descrições informativas da terra, das florestas e dos índios, os diários, as crônicas, escritas pelos navegadores, jesuítas ou missionários.

A primeira produção de que se tem notícia é a Carta de achamento do Brasil, de Pero Vaz de Caminha (abril ou maio/1500), endereçada a D. Manuel I, atual rei de Portugal na época. A carta foi escrita, aproximadamente, quando a frota de Pedro Álvares Cabral se programava para seguir do Brasil à Índia. Observe a imagem da Carta original a seguir.

Figura 1.3 - Carta de Pero Vaz de Caminha sobre o descobrimento do Brasil
Fonte: Tonyjeff / Wikimedia Commons.

No texto, Caminha informa sobre o descobrimento do Brasil, fixando-se principalmente na descrição dos nativos, seus aspectos físicos e comportamentos apresentados.

Carta a El-Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil
Senhor, posto que o capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta Vossa terra nova, que se ora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso minha conta. [...]
E assim seguimos nosso caminho, por este mar, de longo, até terça-feira d’ oitavas de Páscoa, que foram 21 dias d’Abril, que topamos alguns sinais de terra [...] E à quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves, a que chamam fura-buchos. Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra, isto é, primeiramente d’um grande monte, mui alto e redondo, e d’outras serras mais baixas ao sul dele e de terra chã com grandes arvoredos, ao qual monte alto o capitão pôs o nome o Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz. [...]
E dali houvemos vista d’homens, que andavam pela praia, de 7 ou 8, segundo os navios pequenos disseram, por chegaram primeiro. [...] A feição deles é serem pardos, maneira d'avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa cobrir nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto. [...]
Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos, compridos, pelas espáduas; e suas vergonhas tão altas e tão çarradinhas e tão limpas das cabeleiras que de as nós muito bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha. [...]
E uma daquelas moças era toda tinta, de fundo a cima, daquela tintura, a qual, certo, era tão bem feita e tão redonda e sua vergonha, que ela não tinha, tão graciosa, que a muitas mulheres de nossa terra, vendo-lhes tais feições, fizera vergonha, por não terem a sua como ela. [...]
O capitão, quando eles vieram, estava assentado em uma cadeira e uma alcatifa aos pés por estrado, e bem vestido, com um colar d'ouro mui grande ao pescoço. [...] Um deles, porém, pôs olho no colar do capitão e começou d'acenar com a mão para a terra e despois para o colar, como que nos dizia que havia em terra ouro. E também viu um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e então para o castiçal, como que havia também prata. [...]
Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d'agora assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem! Porém, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. [...]

Quadro 1.3 - Carta a El-Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil
Fonte: Dominus (1963, on-line).

A carta de descobrimento do Brasil funciona como um documento histórico, literário e social, de nossas origens e relacionado à visão que o mundo passará ater do nosso país.

SAIBA MAIS

Carta de Caminha

Para ter acesso à carta na íntegra de Pero Vaz de Caminha sobre o descobrimento do Brasil acesse o link a seguir.

<http://www.culturabrasil.org/zip/carta.pdf>.

Mais do que um documento, com a função de relatar e informar a visão da nova terra, ele descreve a vida e comportamentos dos nativos, seus hábitos, suas reações e as primeiras impressões do povo que aqui habitava, de maneira, muitas vezes, até exagerada e romantizada.

Por valor literário deve ser entendido aquilo que extrapolaria a mera função de documentação, constituindo a parte ficcional, em pontos nos quais o escrivão-narrador imagina possibilidades para a futura colônia, assim como as orações nas quais descreve os homens e as terras e sua abundância de recursos. Estão mais para a especulação do que propriamente para constatação da realidade, o que foge da conformação que um documento com este formato deveria ter. (CAMARGO, 2011, p. 14).

Várias outras cartas foram escritas pelos navegadores ou outros portugueses e endereçadas à Corte lusitana. Dentre elas, destacaram-se: Diário da Navegação da Armada que foi à terra do Brasil (1532), de Pero Lopes de Sousa, e o Tratado descritivo do Brasil (1587), de Gabriel Soares de Sousa, senhor de engenho.

Além dos portugueses, também outros europeus escreveram documentos importantes sobre as novas terras. Por exemplo, Duas Viagens ao Brasil (1557), do alemão Hans Staden, Viagem à terra do Brasil, de Jean de Léry, e As Singularidades da França Antártica, André Trevet, ambos franceses que, nesses escritos, documentaram a tentativa de colonização francesa na baía de Guanabara.

Com a chegada dos padres jesuítas no Brasil (em 1549), iniciou-se o processo de catequese dos índios e a fundação dos primeiros colégios que, por sinal, por muito tempo, foi a única atividade intelectual da Colônia. Eles escreveram muitas obras sobre o Brasil, sua natureza e seus habitantes, por exemplo, as Cartas, de Manuel da Nóbrega e José de Anchieta, com obras produzidas na segunda metade do século XVI. Iniciou-se, então, com a chegada dos jesuítas e as suas produções, o período que ficou conhecido como literatura dos jesuítas.

Em termos estéticos, as produções dos jesuítas foram consideradas as melhores do Quinhentismo. Dentre essas produções, destacaram-se:

  • Poemas de devoção.
  • Cartas e documentos informativos para a Europa.
  • Teatro com objetivos pedagógicos, baseando-se em passagens bíblicas.

Para transmitir os ensinamentos que desejavam (e precisavam), os jesuítas aprenderam a língua tupi para se expressarem aos índios. Com o tempo, os indígenas passaram a ser não somente espectadores, mas também atuantes nas peças, como dançarinos, cantores e atores. Dentre os principais jesuítas responsáveis pela produção literária da época estão o Padre Manuel da Nóbrega, o Missionário Fernão Cardim e o Padre José de Anchieta, como veremos a seguir.

  • Padre José de Anchieta (Ilhas Canárias – Espanha 1534/ Brasil 1597)

Destacou-se entre os outros jesuítas pelo esforço na catequese dos índios. Também apresentou “sementes” de uma literatura que algumas décadas depois se firmaram como sendo do movimento barroco.

Anchieta compôs peças de teatro, sermões, prosa informativa, poemas religiosos e laudatórios com intenções catequéticas, escritos em tupi-guarani, português e espanhol, como, por exemplo: a peça Auto de São Lourenço, em que Anchieta apresenta o martírio de São Lourenço que preferiu morrer queimado a renunciar sua fé cristã, por meio da conciliação entre mitos indígenas e valores católicos.

Já, no caso das poesias, imitou o modelo de Camões, tão em destaque em Portugal da época, principalmente o modelo do poema épico Os Lusíadas em que toda a linguagem é lírica, imitada pelos escritores desse período colonial e também no Barroco e Arcadismo, como é o caso de Bento Teixeira e Basílio da Gama, por exemplo. Sendo assim,

[...] podemos dizer que é a presença de reminiscências da linguagem poética camoniana no barroco peninsular que nos permite, no nosso caso, [da literatura brasileira] estabelecer relações entre a nossa evolução literária verdadeiramente definida, do século XVII em diante e os antecedentes portugueses quinhentistas (CANDIDO; CASTELLO, 1974, p.12).

Os críticos reiteram que tal afirmação também se estenderia para o teatro de José de Anchieta, porque seguiu os modelos dos Autos de Gil Vicente. No entanto, apresentava “uma forma dramática popular, relativamente livre e fecunda – em oposição ao teatro de tradição greco-latina” (CANDIDO, CASTELO, 1974, p.13).

Dentre seus poemas mais conhecidos estão “Do Santíssimo Sacramento” e “A Santa Inês”. Vejamos como se apresenta em alguns trechos o confronto entre o bem e o mal, o enfoque na fé, a musicalidade dos versos que colaboram para sensibilizar o ouvinte e transmitir a mensagem religiosa:

A Santa Inês
Cordeirinha linda,
Como folga¹ o povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume² novo!
Cordeirinha santa,
De Jesus querida,
Vossa santa vida
O Diabo espanta.

Por isso vos canta
Com prazer o povo,
Porque vossa vinda
Lhe dá lume novo.

Nossa culpa escura
Fugirá depressa,
Pois vossa cabeça
Vem com luz tão pura.
[...]
¹folga: se alegra
²lume: luz

Quadro 1.4 - Poema A Santa Inês
Fonte: Anchieta (s.d., on-line).

Elementos Literários nos Textos de Informação

Por causa da própria finalidade informativa das produções desse período, os textos escritos no século XVI não apresentam figuras de linguagem ou outros elementos claramente artísticos. Entretanto, é possível identificar alguns elementos literários como:

O aspecto narrativo, da maioria das produções, e o elemento imaginativo dos autores resultavam em textos que superavam o caráter meramente informativo dos relatos.
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Era muito frequente a mistura entre as informações geográficas sobre a terra e os fatos históricos com a aventura e a anedota. Isso resultava em narrativas envolventes, semelhantes às dos livros de ficção. Por exemplo: os escritos de Hans Staden, com peripécias que colocam a
vida do protagonista em perigo e História da Província de Santa Cruz, de Pero de Magalhães Gândavo, em que se narra o aparecimento e a ameaça de um leão-marinho à vila de São Vicente.
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Havia preocupações estilísticas e cuidado com a linguagem nesses textos, aspecto que aproximava esses escritores dos literatos portugueses da mesma época. Assim, tanto Pero Vaz de Caminha, quanto Pero Magalhães Gândavo, utilizavam-se dos padrões de estilo da língua portuguesa. Este último, inclusive, foi um dos primeiros a estabelecer algumas das normas da gramática culta em um tratado.
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Presença de deslumbramento e entusiasmo do europeu diante dos povos nativos e da natureza encontrada nos Trópicos.
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O cuidado com a linguagem nos registros se associava à criatividade e a presença das emoções dos autores, misturando-se com o aspecto informativo desses escritos e atribuindo a eles elementos artísticos e literários.
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Os registros desse período serviram de “inspiração” para as produções literárias brasileiras dos séculos posteriores próximos.
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Todo esse deslumbramento e empenho nos registros, descrições, relatos e cartas dos estrangeiros conduziu a um sentimento de valorização da Colônia, colocando-as como sendo o próprio futuro do reino português. É claro, também, que esse sentimento nativista representou muitos conflitos posteriores, com relação à maneira de entender e ver o mundo em relação à grande diferença entre os índios nativos e os portugueses. Esse “nativismo” se apresentou de forma embrionária nas produções do século XVI, tornando-se uma característica essencial das produções barrocas e árcades, o que destaca a importância de se conhecer a natureza das produções literárias antes desses períodos. Porém, nos estudos sobre a literatura no Brasil, consideraram-se somente os escritos em português. Bosi (2012) indicou alguns autores e obras que considerou mais representativas das produções literárias do século XVI.

O conjunto dos textos produzidos no Brasil durante a Época Colonial, seja com a intenção de apresentar as particularidades geográficas e dos habitantes nativos, seja de mostrar a diversidade natural, proporcionou o conhecimento de vários fatos históricos da época. Isso ocorreu porque, em linhas gerais, essas cartas, diários, documentos descritivos ou relatos registraram muitos aspectos da implantação do processo de colonização em terras brasileiras, fatos registrados por participantes ou testemunhas oculares. No entanto, também é possível identificar elementos estéticos nessas produções que as aproximam dos textos literários.

REFLITA

Colônia do Brasil

“A colônia só deixa de o ser quando passa a sujeito de sua história. Mas essa passagem fez-se no Brasil por um lento processo de aculturação do português e do negro à terra e às raças nativas; e fez-se com naturais crises e desequilíbrios”.

Fonte: Bosi (2012, p. 11).

Indicação de leitura

Livro: Literatura e Sociedade

Autor: Antonio Candido

Ano: 2008

Editora: Ouro Sobre Azul

ISBN: 8588777150, 9788588777156

Sinopse:  Este livro, publicado em 1965, tem como pressuposto o desejo de compreender a obra literária como resultado da sublimação de dados sociais que, de um lado, fazem dela expressão de uma sociedade e de um momento histórico; mas, de outro lado, perdem a sua natureza de fatores para se transformarem em elementos de uma estrutura que funciona como se fosse independente. Daí uma consequência fundamental: a obra literária deve ser estudada pelo crítico como objeto estético, não como documento ou reflexo da realidade, mas sem ignorar as conexões com esta. Os ensaios deste livro estão, ora mais próximos, ora mais afastados da realidade histórica e social que condiciona as obras e enquadra os autores.

Fonte: SKOOB. Resenha: Literatura e Sociedade. Disponível em: <https://www.skoob.com.br/livro/11281ED12583>. Acesso em: 25 set. 2019.

Considerações Finais

Nesta unidade conhecemos um pouco mais sobre os aspectos da história literária no Brasil e do posicionamento crítico de alguns dos principais nomes dos estudos de nossa literatura. Percebemos o quanto de polêmica envolve a questão de quando teria iniciado a literatura no Brasil e de como essa questão, apesar das profundas transformações vivenciadas, ainda permanece em construção, em aberto.

Apresentamos os componentes históricos e literários produzidos na Época Colonial, juntamente com seus principais transmissores, os navegadores e os padres jesuítas. Destacamos as produções com a finalidade informativa da descoberta do Novo Mundo, em um primeiro momento e, depois, com a necessidade de implantação religiosa, cultural e ideológica da visão do branco europeu aos indígenas.

Por fim, apresentamos e refletimos sobre o conceito de “movimento literário” e “periodização” a partir de comparações e exemplos. Espero que tenha gostado de conhecer mais proximamente sobre as produções literárias dos séculos iniciais de Brasil.

Atividade

Os períodos ou movimentos literários caracterizam-se por apresentarem marcas e elementos particulares, subjetivos e, ao mesmo tempo, em comum com várias produções de escritores. Sendo o Quinhentismo o primeiro movimento literário do Brasil, como ele pode ser caracterizado em termos de produção literária?

Por todas as manifestações literárias no Brasil durante o século XVI.

Correta. Normalmente, são denominadas de Quinhentismo todas as manifestações literárias que aconteceram no Brasil durante o século XVI, logo após o Descobrimento do Brasil. O início da colonização coincidiu com o momento áureo da literatura quinhentista portuguesa, tendo como seu principal representante, o mestre Camões. A preocupação com a espiritualidade dos povos nativos e dos portugueses que estavam no Brasil conduziu à chegada de expedições com padres jesuítas em 1549, meio século após o descobrimento. Eles foram responsáveis pela catequese dos índios, além dos ensinamentos da língua portuguesa e da doutrina cristã nos colégios que fundaram logo após a chegada desses padres. Na verdade, houve uma imposição cultural à qual os indígenas não tinham outra escolha a não ser se submeterem a tais ensinamentos. Isso resultou em um desrespeito com os princípios básicos da cultura indígena que tinha suas regras próprias. Os jesuítas simplesmente desconsideraram o rico conjunto de mitos e lendas dos nativos. Esse aspecto peculiar da cultura dos índios só passou a ser observado e valorizado, em aspectos literários, alguns séculos depois, com poesias e romances do indianismo romântico, por exemplo.

Somente pelas produções dos padres jesuítas.

Incorreta. Os padres jesuítas escreveram muitas obras sobre o Brasil, sua natureza e seus habitantes, por exemplo, as Cartas, de Manuel da Nóbrega e José de Anchieta, com obras produzidas na segunda metade do século XVI. Iniciou-se, então, com a chegada dos jesuítas e as suas produções, o período que ficou conhecido como literatura dos jesuítas. Em termos estéticos, as produções dos jesuítas foram consideradas as melhores do Quinhentismo, mas, não foram somente essas produções que caracterizam o movimento Quinhentismo.

A carta de descobrimento do Brasil, de Pero Vaz de Caminha.

Incorreta. Costuma-se conceituar de literatura de informação as produções do Quinhentismo, desde o início do período de colonização. A “informação” era a função principal dos escritos de qualquer natureza dos portugueses que aqui chegaram, já que eles tinham a obrigação de comunicar, por meio de descrição minuciosa, tudo o que tinham encontrado em solo novo. Assim também ocorreu quando houve a descoberta de outras terras no período das navegações. As produções escritas neste período eram os relatos de viagens, depoimentos e os documentos com registros descritivos das novas terras. A primeira produção de que se tem notícia é a Carta de achamento do Brasil, de Pero Vaz de Caminha (abril ou maio/1500), endereçada a D. Manuel I, atual rei de Portugal na época. A carta foi escrita, aproximadamente, quando a frota de Pedro Álvares Cabral se programava para seguir do Brasil à Índia. No texto, Caminha informa sobre o descobrimento do Brasil, fixando-se principalmente na descrição dos nativos, seus aspectos físicos e comportamentos apresentados. A carta é considerada parte do Quinhentismo, mas não consegue definir somente por ela mesma o movimento.

Apenas pelas obras: Diário da Navegação da Armada que foi à terra do Brasil (1532), de Pero Lopes de Sousa e o Tratado descritivo do Brasil (1587), de Gabriel Soares de Sousa.

Incorreta. As produções escritas neste período do século XVI eram os relatos de viagens, depoimentos e os documentos com registros descritivos das novas terras. Essa produção ocorria inicialmente pela obrigação, pela necessidade de transmitir informação para a Coroa portuguesa sobre as novidades e particularidades do país descoberto. As duas obras citadas fazem parte da literatura de informação, agregada ao movimento Quinhentismo, mas não definem sozinhas, o movimento.

Pela produção de Luiz Vaz de Camões.

Incorreta. Camões relaciona-se à história literária brasileira apenas porque o início da colonização do Brasil coincidiu com o momento áureo da literatura quinhentista portuguesa, sendo seu principal representante da literatura, mas não faz parte da produção literária brasileira.

Atividade

A primeira missa realizada no Brasil marcou tanto o início de nossa história, enquanto país, quanto o início de nossa literatura, pela produção literária advinda desse momento. Tendo isso em vista, podemos afirmar que a principal relevância literária, social e histórica da carta de Pero Vaz de Caminha, escrita ao rei de Portugal D. Manuel I, deve-se ao fato de:

relatar a importância e superioridade dos portugueses que participaram da missa.

Incorreta. Apesar de relatar, de certa forma, a superioridade dos portugueses que participaram da primeira missa no Brasil pela narração onde os índios deviam imitar todos os gestos realizados pelos portugueses nos rituais religiosos da missa, não é essa a principal relevância que temos da carta escrita por Pero Vaz de Caminha.

servir como uma reflexão em torno da religiosidade brasileira e da imposição cultural aos índios na época do descobrimento.

Correta. A realização da primeira missa em solo brasileiro se tornou um marco histórico do nosso país. Esse fato também pode ser visto como uma manifestação interessante para a reflexão em torno da religiosidade brasileira e da imposição cultural. A missa foi realizada no dia 26 de abril de 1500 na praia da Coroa Vermelha, Porto Seguro, litoral Sul do país. Foi narrada pelo escrivão por Pero Vaz de Caminha em carta ao rei de Portugal, D. Manuel. Frei Henrique e mais alguns clérigos celebraram a missa que contou com a presença de cerca de mil homens entre marinheiros, oficiais e os índios que acompanhavam com surpresa o que acontecia. Eles imitavam os gestos ritualísticos da cerimônia e demonstraram respeito (o que não aconteceu por parte dos brancos). Isso fez com que Vaz de Caminha acreditasse na facilidade da “conversão” dos índios e a insistir pela rapidez em batizá-los. Logo após a cerimônia os sacerdotes narraram a chegada dos portugueses

narrar a natureza do Brasil e como eles poderiam conquistar os recursos naturais.

Incorreta. Apesar de Pero Vaz de Caminha citar a natureza do Brasil como um fator importante para novas conquistas dos portugueses, o principal legado da carta sobre a missa foi o de refletir sobre como a religiosidade foi importo e como a cultura religiosa católica foi incorporada aos costumes dos nativos da região.

destacar a importância da igreja católica em todos os lugares conquistados pelas expedições portuguesas.

Incorreta. Embora a exaltação sobre a religião católica tenha tomado bastante destaque na carta de Pero Vaz de Caminha, mais que destacar a importância dessa religião em nossas terras, foi a de relatar sobre a imposição da religião aos índios e sobre como se deu essa imposição na época do descobrimento, feita através da imitação dos índios aos rituais e gestos realizados na missa pelos portugueses.

apresentar a inferioridade dos povos que viviam aqui, a fim de enganá-los para adquirir suas riquezas naturais.

Incorreta. De fato, a “ignorância dos índios” é citada na carta de Pero Vaz de Caminha e a conquista das riquezas naturais brasileiras é algo que, aos poucos, vai sendo incorporada no discurso da carta, muitas vezes, deixada nas entrelinhas, mas o que mais podemos perceber como sendo relevante na carta é uma reflexão em torno da religiosidade imposta e da cultura portuguesa, a qual os índios tiveram que se adaptar.

Atividade

Costuma-se conceituar de literatura de informação as produções do Quinhentismo, desde o início do período de colonização. Tendo isso em vista, qual era a principal função dessa literatura?

Pedir informações sobre Portugal e sobre o que os expedicionários portugueses deveriam fazer no Brasil.

Incorreta. A função era de repassar as informações do Brasil, relatando e descrevendo todas as impressões e detalhes sobre a nova terra.

Dar informações aos índios sobre Portugal e o restante da Europa.

Incorreta. Os portugueses não tinham a função de informar os índios sobre a terra deles, tampouco, sobre o restante da Europa. A intenção da literatura de informação era a de informar os portugueses sobre a vida dos índios e dos recursos que encontraram aqui.

Informar, de forma preocupada, sobre a situação que os índios estavam vivendo e a saudade que os portugueses tinham das famílias e da terra que deixaram para trás.

Incorreta. Não era função da Literatura de informação informar sobre o modo de vida dos índios, considerando como uma preocupação dos portugueses em relação a isso, mas, somente, para descrever o que haviam encontrado de diferente na vida dos nativos encontrados com a descoberta de um novo país. A saudade da terra natal é presente em outro tipo de literatura também, não na literatura de informação.

Informar a Portugal sobre a nova terra, descrevendo e relatando cada detalhe da natureza e dos nativos e transmitir qualquer informação que seja válida à Coroa.

Correta. A “informação” era a função principal dos escritos de qualquer natureza dos portugueses que aqui chegaram, já que eles tinham a obrigação de comunicar, por meio de descrição minuciosa, tudo o que tinham encontrado em solo novo. Assim também ocorreu quando houve a descoberta de outras terras no período das navegações. As produções escritas nesse período eram os relatos de viagens, depoimentos e os documentos com registros descritivos das novas terras. Essa produção ocorria inicialmente pela obrigação, pela necessidade de transmitir informação para a Coroa portuguesa sobre as novidades e particularidades do país descoberto. Também muitos faziam esses registros por opção pessoal, devido a própria novidade e diversidade desse “novo mundo”. Tratou-se, então, de uma literatura realizada no Brasil, sobre a Colônia e escrita pelos portugueses, ou seja, apresenta a visão e as ambições do europeu em novas terras e diante de riquezas. Dessa forma, ainda não se tratava de uma literatura totalmente brasileira porque não era produzida com a visão do brasileiro. As formas e gêneros textuais variavam entre a carta, os tratados, as descrições informativas da terra, das florestas e dos índios, os diários, as crônicas, escritas pelos navegadores, jesuítas ou missionários.

Veicular informações erradas e idôneas sobre o Brasil, a fim de que outros portugueses não viessem ao país.

Incorreta. Pelo contrário. A função da literatura de informação era de repassar o máximo de detalhes e de informações possíveis sobre a nova terra encontrada, a fim de que outros portugueses viessem para coroar a descoberta e povoar o Brasil. De fato, alguns relatos foram exagerados e com uma visão romantizada da terra, mas não com a intenção de omitir ou mascarar as características da nova terra.

Unidade Concluída

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